Relatos de vida de mulheres em Ciências Contábeis : desafios sociais, familiares e acadêmicos
Autor: Mariana Furlanetto de Souza (Currículo Lattes)
Resumo
Ter um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal permanece um ideal distante para mulheres que enfrentam múltiplas jornadas, muitas vezes invisibilizadas pela rotina e silenciadas pelas estatísticas. Este estudo busca compreender as trajetórias de graduandas do curso de Ciências Contábeis de uma universidade pública ao gerenciarem suas demandas profissionais, acadêmicas e familiares, sob a luz da Teoria das Táticas de Manejo de Fronteiras (Kreiner; Hollensbe; Sheep, 2009). Com abordagem qualitativa, a pesquisa utiliza relatos de vida e grupo focal para explorar as experiências dessas mulheres que conciliam estudo, trabalho e responsabilidades familiares. A análise fundamenta-se na referida teoria e estruturou-se em quatro táticas à priori: ações de conciliação; limites e estratégias no ambiente de trabalho e estudo; fontes de apoio; e gestão do tempo e prioridades. Essas táticas representam as estratégias que as participantes empregam para criar seus próprios estilos de segmentação ou integração entre os diferentes domínios de suas vidas. Além disso, foi identificada uma tática emergente, intitulada Sentidos atribuídos à trajetória, oriunda diretamente das narrativas das participantes, que revela a construção de significados pessoais frente às múltiplas jornadas. Por meio de uma análise interpretativa, foi possível compreender como essas mulheres organizam suas rotinas e negociam, de forma cotidiana, os limites entre trabalho, estudo e vida familiar. Os resultados indicam que, apesar do uso dessas táticas, muitas participantes ainda experienciam sobrecarga física, emocional e mental, revelando sentimentos de culpa, frustração e exaustão, mas também resistência, determinação e o desejo de permanecer na universidade. Conclui-se que o equilíbrio entre trabalho, estudo e vida pessoal é uma constante tensão, impulsionada por estruturas sociais que atribuem à mulher a maior responsabilidade pelo trabalho reprodutivo. Ainda assim, as participantes continuam reinventando sentidos e reconstruindo suas trajetórias, demonstrando resiliência e criatividade. O estudo destaca a atenção para ações institucionais mais sensíveis às múltiplas jornadas vividas por mulheres no ensino superior, além de reforçar a necessidade de políticas que promovam condições mais equitativas e acolhedoras.